quinta-feira, 16 de junho de 2016

2. Filme “Eichmann” (Solução Final)


O filme é baseado no depoimento final de Adolf Eichmann, feito antes de ser executado em Israel. Capturado quinze anos após a Segunda Guerra Mundial pelo serviço secreto argentino, Eichmann era o homem mais procurado do mundo. Em suas confissões ele relata que foi o arquiteto do plano de Hilter chamado "Solução Final". E o responsável pela tarefa de extrair essas revelações foi o capitão israelense Avner W. Less, cujo próprio pai falecera num campo de concentração. O resultado dessa batalha mental entre dois homens e o passado transformou uma nação. (Fonte: site "Adoro Cinema")

17 comentários:

  1. Trata-se do filme "Eichmann" de Robert Young (2007). Este filme foi comentado por Pedro Plaza Pinto no capítulo intitulado "Personagens e efeitos de ficção: uma narrativa entre olhares", publicado no livro "Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois" (organização de Marion Brepohl, Curitiba: Editora UFPR, 2013).
    Vale a pena observar se a caracterização de Eichmann neste filme corresponde ou não à descrição de Hannah Arendt.
    Façam seus comentários até o dia 30/06/2016, 23:59 hrs.

    ResponderExcluir
  2. O filme Solução Final representa os interrogatórios feitos por um capitão de polícia judeu á Eichmann, o nazista mais procurado do mundo, que escapou dos julgamentos de Nuremberg se escondendo em vários países, e escolhendo como destino definitivo a Argentina.
    A notícia da captura de Eichmann é recebida com euforia pelo povo judeu, agora instalados no novo Estado Israel, onde esperam por uma sentença de morte rápida. Porém, um ministro decide que Eichmann deve ser interrogado para que possam tirar o maior número de provas possíveis contra ele em uma audiência épica. O povo judeu se revolta e durante os interrogatórios, o capitão tem dificuldades em retirar provas da participação ativa de Eichmann no holocausto judeu.
    Assim como o mundo tinha uma visão hollywoodiana do vilão Eichmann, eu também tinha. Mas no filme, assim como na obra de Hannah Arendt, a personalidade medíocre e incapaz de criar juízos de valores contra um sistema claramente genocida é evidenciado, deixando claro também que Eichmann pretendia ascender em sua carreira profissional, e que não haveriam barreiras que ele não ultrapassaria afim de seu êxito.
    Gabriel Chagas. RA:21060915

    ResponderExcluir
  3. No filme, há uma contraposição com as versões coletadas nos depoimentos de outros oficiais e a que eichmann dizia sobre o seu perfil individual, sua forma de conduta no setor de transporte na “solução final” e sobre o antissemitismo.
    A faceta mostrada nos recortes reais (baseados nos depoimentos de outrem) mostram um sujeito frio que levou a cabo ordens de exterminar, agiu por conta própria e até contrariou orientações superiores sempre na direção da morte de judeus, ciganos e os ditos inimigos do estado. Aspectos sutis perpassam a narrativa como a vaidade e segurança demasiada nas falas e uma certa procacidade na tomada dos fatos.
    Em uma passagem muito significativa o coronel diz amar seus filhos e diante da exposição de seus atos em matar milhares de crianças ele diz: "mas eram judeus". O roteirista reforça, nessa fala, uma tese de que além da apontada característica burocrata do coronel, contribui para a sua insistência em não cometer crime algum, um conceito íntimo de não considerar sequer humanos os judeus. Uma sugestão que pode estar calcada na formação militar, na máquina de propaganda, na subordinação, mas também na formação intelectual.
    As teses da noção de sub-humanos e da subordinação aética não são excludentes e na descrição biográfica de eichmann feita por Hanna Arent parece prevalecer um conhecimento mais aprofundado dele sobre o sionismo. Suas ações entretanto, revelam um grau agudo de obstinação, fixação e sadismo que vão além do estatuto cognoscente de um ser.

    PS: fazer esse exercício é lidar com as próprias vísceras

    ResponderExcluir
  4. Apesar do Título dar uma idéia de centralidade da história em Eichmann, assistimos duas narrativas as quais eu classificaria, a primeira, como um tipo de jornada do herói, e, a segunda, que trata própriamente de Eichmann, tem aspecto mais documental.
    Sobre a primeira acredito que teve o intuito de introduzir-nos à pessoa de Avner W. Less, uma vez que este filme foi baseado em parte nas transcrições do interrogatório conduzido por ele, tem um viés humanizador frequentemente negado ao papel do interrogador nas habituais produções hollywooddiana(dos gêneros de filmes mais comuns).
    Talvez pelo aspecto do limite de tempo inerente à linguagem filmográfica, nos deparamos com um Eichmann bem menos humanizado quando comparamos à pessoa descrita por Arendt, por exemplo. Os momentos em que ele está escrevendo a carta para a família não chega perto de gerar a mesma conexão empática que é possibilitada com a família do interrogador. A curiosidade levantada pelo interrogado sobre os nomes das esposas não é explorada, e mesmo se o fosse, não tenho certeza de que colaboraria para a construção de alguma empatia para com a história do interrogado. Existe um esforço claro para mostrar que a família de Eichmann não tem parte alguma em seus crimes, e isso se fez revelando as relações extraconjugais dele, e também ao constatar sua ausência na vida dos filhos.
    O personagem descrito por Hannah Arendt tem uma constituição histórica razoavelmente explorada com o intuito de ilustrar a sua mediocridade e de suas carreiras. O personagem do filme tem uma história mais fragmentada que torna possível apenas a constatação de que Eichmann era culpado. Os clichês denunciados por Arendt no relato do julgamento estão lá, claramente reproduzidos quando o acusado parecia encurralado pelo interrogador, a emergência desses clichês por vezes mina as investidas de Avner, artifício que segundo Arendt, produz outro efeito durante o julgamento, corroborando com a descrição da índole medíocre de Eichmann.
    O Eichmann, no filme, colabora na construção não de um monstro, mas com certeza não nos parece uma pessoa comum, ele é no mínimo um ser humano desprezível em muitos aspectos. Sim ele come, mas arquitetou a logística do massacre de milhões de judeus. Ele defeca, mas, ao menos no filme, têm-se a ideia de que atirou naquele bebê. Não é um monstro, mas conduziu homens, mulheres e crianças para a morte certa. No filme ou em Arendt vemos um Eichmann de carne e osso, que não é cinza, não é um monstro, mas nos ensina um pouco mais sobre a mediocridade do discurso de "estar seguindo ordens".

    ResponderExcluir
  5. O filme “Solução Final”, mostra todo o percurso de investigação e julgamento de Adolf Eichmann, responsável pela deportação de centenas de milhares de judeus para campos de concentração. Segundo a análise da cientista política Hannah Arendt, Eichmann era um homem normal, não um ser monstruoso ou uma pessoa que agia por uma convicção fanática, mas um sujeito que tinha um comportamento que poderia ser encontrado de modo latente em qualquer cidadão presente em um regime totalitário ou ditador, na época. No filme, podemos perceber que Eichmann demonstra orgulho do trabalho realizado e considera-o bem feito, não demonstrando arrependimento pelas ordens acatadas acobertadas moralmente pelo nazismo. Arendt conceituou esse contexto com a expressão “banalidade do mal”, mostrando que a maldade pode vir de seres humanos “normais”, sem traços de sadismo ou perversão. Eichmann se mostrava praticamente impossível de saber ou sentir que estava agindo de modo errado, fruto da alienação moral do Terceiro Reich. Eis a importância da relevante e polêmica opinião de Arendt. O potencial de violência que possa existir em cada ser humano, quando controlado por alguma ideologia totalitarista ou ditadora. Como, por exemplo, no filme “A Onda”, no qual os alunos após o pronunciamento do professor de que toda a situação simulada deveria acabar, perderam o controle e decidiram agir violentamente por conta própria. O atual momento político conservador que vivemos no Brasil, traz muitas questões quanto a representatividade de religiões, raças, gênero e orientação sexual por políticos, levando uma parcela da população a agir com comportamentos de retaliação em relação aos que divergem dos seus conceitos.

    ResponderExcluir
  6. Temas como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial são usualmente abordados por filmes e séries. O filme “Eichmann” (Solução Final) de Robert Young (2007) tem seu enredo baseado nos depoimentos feitos por Adolf Eichmann antes da sua execução em Israel. Eichmann foi capturado pelo serviço secreto argentino após quinze anos do término da Segunda Guerra. O acusado relato nos depoimentos como arquitetou o plano Solução Final de Adolf Hitler para acabar o povo judeu na Alemanha.
    Hannah Arendt acompanhou o julgamento do nazista e analisa em sua obra “Banalidade do Mal” o que presenciou. Para Arendt, Eichmann era um sujeito normal e não maligno ou desprovido de caráter social como usualmente associamos à figura nazista. Ele apenas cumpria ordens e tarefas que eram atribuída, sem pensar e era passivo e submisso diante dos deveres impostos.
    Eichmann não foi responsável por nenhuma morte direta, sendo um “transportador de judeus” e sua culpa paira na ética e no não pensar e, percebemos, que nossa sociedade é cada vez mais composto por cidadãos semelhantes à Eichmann. Notamos a complexidade da natureza humana e a banalidade do mal quando a sociedade encara com naturalidade atrocidades como genocídios, torturas, sofrimento, dor, dentre outros. Segundo Arendt é necessário vigilância para assegurar a preservação e também a defesa da liberdade.
    O julgamento tinha finalidade de mostrar as responsabilidades que o acusado teve na “Solução Final” e não apenas ser levantado como uma peça da burocracia e quem somente cumpria ordens de superiores e se mostrava satisfeito com os resultados bem sucedidos, devemos perceber as responsabilidades individuais em crimes cometidos pelo Estado. Eichmann não era um mostro, mas sim um cidadão comum e medíocre que agia conforme as ideologias de um partido totalitário.
    Na atualidade, percebemos a mesma banalidade quando nos deparamos com atos cometidos por questões de gênero, religiosas ou pela volta cada vez mais eminente do pensamento conservador e a necessidade de manter a “raça pura”, sem miscigenação, com práticas xenofóbicas como as que estão acontecendo na Europa.
    Recentemente assisti ao filme “Ele está de volta” que relata como seria de Hitler ressurgisse na sociedade contemporânea. As pessoas não percebem que se tratava verdadeiramente de Adolf Hitler e o tratam como um comediante que logo faz sucesso na Alemanha com suas falas conservadoras e nacionalistas. A sátira é incrivelmente inteligente, mostrando como ainda somos suscetíveis a ideologias e a mídia quando nos deparamos com personagens carismáticos e que, com suas piadas, relatam o que muitos cidadãos comuns ainda sentem sobre determinados assuntos, mas que quando são ditos “para dar risada” todos aceitam, não refletindo sobre as ideologias contidas nas falas que, na maioria das vezes, são de cunho preconceituoso, sexista e conservador.
    Infelizmente, vemos a ascensão desse discurso de ódio e intolerância no Brasil. A atual crise que vivemos está abrindo espaço para o aparecimento de “heróis” que se utilizam de valores cristãos para disseminar seu ódio contra as minorias. Não podemos permitir que essa onda e ascensão da extrema-direita que se diz defensora da família, bons costumes e moral tome conta da cena política e que suas ideologias sejam absorvidas cada vez mais pela sociedade.

    ResponderExcluir
  7. Tanto a mediocridade do "estava cumprindo ordens" quanto a do "eu não sabia" ou "fui enganadx/traidx" revelam a falibilidade da moral, tomando-a como nas Fontes do Self de Taylor, sob seu aspecto "naturalista", "visceral": de impassividade inerente ao ser humano quanto ao assassínio e demais formas de extrema violência física independentemente de qualquer arcabouço cultural pela qual esta moral é moldada. Pode-se advogar em prol de semelhantes discursos, o poder de afeições tais como o medo, e condições tais como a ignorância (tomada aqui em seu sentido mais amplo) em detrimento ou complementação (de acordo com o ponto de vista) à simples mediocridade. No entanto, algumas posições, patentes, profissões etc, tais como SS-Obersturmbannführer, não podem ter excluídas de sí qualquer culpa, seja por omissão ou comissão, dada sua responsabilidade e/ou participação seja no "corpo social", mercado, Estado etc. Ainda, pode-se atribuir à virtudes, tais como lealdade, obediência, dever etc, da maneira como fora Eichmann pintado no filme, como excludentes ou atenuantes de culpabilidade/responsabilidade, por mais que "não colem" como escusa no âmbito da realidade efetiva em tempos de niilismo e afins. Em contrapartida pode-se questionar também onde se termina a vingança e onde se começa a Justiça ou mesmo se existe qualquer diferença entre uma e outra; pode-se questionar também a efetividade da punição através de exemplos a não serem seguidos e, por derivação, no que consiste o chamado processo legal, principalmente quando em um tribunal de exceção, talvez como uma escusa pomposa necessária a legitimação do ideário democrático para "ocidentais verem".

    ResponderExcluir
  8. O filme mostra de forma dura e banal a mediocridade dos oficiais de guerra, ao mesmo tempo que relata a luta de um Capitão em conseguir a acusação ou as provas necessárias para acusar o então homem mais procurado do mundo, Adolf Eichmann. O mesmo é retratado como uma máquina sem sentimentos, que não media esforços para realizar as ordens que lhe eram dadas, ou às vezes, realizar atos da sua própria vontade. Somente no final do filme ele demostra uma leve capacidade de sentir, ao pedir que entreguem as suas cartas aos seus filhos. Ao saberem que ele foi capturado, os judeus não tem dúvidas que ele merece morrer, para pagar todos os maus que causou. Porém, Avner Less acredita que ele deve primeiramente ser julgado. Neste ponto, deve-se atentar para a ideia do "dente por dente, olho por olho". Será que de fato essa sempre é a melhor punição? O filme fala de um assunto delicado e pesado, que marcou toda a população mundial e que ainda tem fortes raízes ideológicas e nacionalistas. Interessante que no final do filme, fica-se subentendido que Avner atende ao pedido de Eichmann, enviando suas cartas aos seus filhos, demostrando ai ser um homem que superou sua vaidade e seu ódio pelo individuo que lhe causou tanto mal, mostrando ter maior conhecimento e controle de si mesmo.

    ResponderExcluir
  9. O julgamento de Eichmann com certeza fora uma das questões políticas e éticas mais importantes do século XX. Não necessariamente por causa do brilhantismo ou carisma do "burocrata" alemão, mas sim pela sua simplicidade, pelo seu anonimato no que diz respeito as decisões políticas candentes do Reich alemão. Aparentemente tido como um simples burocrata representante de uma máquina “racional e impessoal” cuja finalidade mórbida era o extermínio da população judia em sua grande maioria.
    A institucionalização e racionalização da “solução final”, expressa na figura de Eichmann, representa uma faceta cruel do modelo social nazista cujos pilares pressupunham um fanatismo racista e uma compulsão pelo ideal de homem puro ariano. Hannah Arendt esperava encontrar um “mostro”, um ser deformado por convicções anti-humanistas facilmente identificáveis dada a tamanha barbaridade orquestrada pelo réu, então julgado em Israel.
    Impressionada com a simplicidade e convicção com que Eichmann defendia sua posição de que era uma “peça menor” no esquema de extermínio nazista devido a seu posto burocrático, Arendt (judia e alemã) repensa a questão da violência, não com uma atividade extraordinária mas como uma condição superficial, banal, ausente de motivações de grande monta capaz de mobilizar não apenas figuras “monstruosas” mas pessoas tidas como “cidadãs comuns” ou melhor ordinárias.
    No Filme, “Eichmann ( solução final)” , a questão do distanciamento sentimental do réu em relação aos seus ato de crueldade , manifesto na película em diversos contextos , torna-se um elemento fundamental para a compreensão da problemática enfrentada por Hannah Arendt, a população judia e de uma maneira mais ampla pela comunidade internacional que acompanhava de perto os desdobramentos da prisão.
    O interrogatório, ambiente central do filme, aparece como forma simbólica que expressa o conflito moral entre acusadores (povo judeu representado) e acusado( Máquina de extermínio nazista representada). A reparação histórica advinda do esforço em concatenar provas contrárias ao “burocrata alemão” aparece como expressão legítima da justiça, pensada sobre uma racionalidade não instrumental , mas direcionada à dimensão dos direitos humanos. Tem-se então uma relação ética ligada a questão da justiça e da representatividade das leis e do Estado. Pois estamos em contato com duas proposituras racionais: uma direcionada ao extermínio sistemático e outra a preservação de direitos fundamentais.
    Curiosamente, o final do filme aponta para uma “rachadura” na carapaça emocional de Eichmann ,quando na verdade é a expressão da clara compreensão de que para o acusado, os judeus estão na condição de sub-humanos não cabendo a devida atenção ou mesmo preocupação.


    ResponderExcluir
  10. O julgamento de Eichmann com certeza fora uma das questões políticas e éticas mais importantes do século XX. Não necessariamente por causa do brilhantismo ou carisma do "burocrata" alemão, mas sim pela sua simplicidade, pelo seu anonimato no que diz respeito as decisões políticas candentes do Reich alemão. Aparentemente tido como um simples burocrata representante de uma máquina “racional e impessoal” cuja finalidade mórbida era o extermínio da população judia em sua grande maioria.
    A institucionalização e racionalização da “solução final”, expressa na figura de Eichmann, representa uma faceta cruel do modelo social nazista cujos pilares pressupunham um fanatismo racista e uma compulsão pelo ideal de homem puro ariano. Hannah Arendt esperava encontrar um “mostro”, um ser deformado por convicções anti-humanistas facilmente identificáveis dada a tamanha barbaridade orquestrada pelo réu, então julgado em Israel.
    Impressionada com a simplicidade e convicção com que Eichmann defendia sua posição de que era uma “peça menor” no esquema de extermínio nazista devido a seu posto burocrático, Arendt (judia e alemã) repensa a questão da violência, não com uma atividade extraordinária mas como uma condição superficial, banal, ausente de motivações de grande monta capaz de mobilizar não apenas figuras “monstruosas” mas pessoas tidas como “cidadãs comuns” ou melhor ordinárias.
    No Filme, “Eichmann ( solução final)” , a questão do distanciamento sentimental do réu em relação aos seus ato de crueldade , manifesto na película em diversos contextos , torna-se um elemento fundamental para a compreensão da problemática enfrentada por Hannah Arendt, a população judia e de uma maneira mais ampla pela comunidade internacional que acompanhava de perto os desdobramentos da prisão.
    O interrogatório, ambiente central do filme, aparece como forma simbólica que expressa o conflito moral entre acusadores (povo judeu representado) e acusado( Máquina de extermínio nazista representada). A reparação histórica advinda do esforço em concatenar provas contrárias ao “burocrata alemão” aparece como expressão legítima da justiça, pensada sobre uma racionalidade não instrumental , mas direcionada à dimensão dos direitos humanos. Tem-se então uma relação ética ligada a questão da justiça e da representatividade das leis e do Estado. Pois estamos em contato com duas proposituras racionais: uma direcionada ao extermínio sistemático e outra a preservação de direitos fundamentais.
    Curiosamente, o final do filme aponta para uma “rachadura” na carapaça emocional de Eichmann ,quando na verdade é a expressão da clara compreensão de que para o acusado, os judeus estão na condição de sub-humanos não cabendo a devida atenção ou mesmo preocupação.


    ResponderExcluir
  11. Há divergência entre o Eichmann da obra cinematográfica e o registrado no livro de Arendt. O réu de "Eichmann em Jerusalém" é um homem medíocre, médio. Não é um monstro, mas uma pessoa comum. Eichmann no relato de Arendt se apresenta como um homem esvaziado de seus juízos morais, esvaziado da capacidade de reflexão, é, de certa maneira, um automato. Realiza tal qual qualquer outro operário do século XX seu trabalho: de maneira alienada. Parece que a filósofa se utiliza do caso de Eichmann para passar a mensagem de que em tempos de terror, em tempos de totalitarismo, é o que não se rende à barbárie que se constitui como exceção. Tal ponto de vista é reforçado com os trechos que se referem a Anton Schmidt, sargento alemão que ajudou judeus.

    O filme por sua vez parece ter uma relação de atração e resistência para com o Eichmann simplesmente como medíocre. Alguns trechos da narrativa buscam nos afetar de uma maneira que tomemos Eichmann com empatia, que enxerguemos ali um ser humano, porém também há momentos em que o interrogado se coloca com um antissemita convicto, com algo de sádico, estes momentos casam com a caricatura que é corrente acerca do regime nazista. Prova disto é que os momentos de “humanidade” do réu se tornam acontecimentos, fogem da narrativa vigente e provocam estranhamento ao espectador.

    A mim o relato de Arendt tem algo que falta ao filme de Nick Young: uma identidade sólida atribuída ao personagem central. Se a filósofa mostra um homem mediocre e alienado que se deixou levar pelas condições de horror a sua volta, o diretor entrega um personagem fluído entre o cinismo, o ódio e os sentimentos. O primeiro parece estar convicto de que apenas cumpria ordens, o segundo tem algo de obscuro quanto às causas que o levaram a fazer o que fez.

    ResponderExcluir
  12. Tratar da questão relativa ao holocausto, é, sem dúvida, relatar um dos piores momentos vividos pela humanidade, com um crime que ela cometeu contra si mesma, no entanto, no filme Eichmann, Solução Final, fica evidente como determinados oficiais lidavam com a morte de milhares de pessoas de maneira fria e burocrática, assim, a cada depoimento de Adolf Eichmann, após ter sido sequestrado no subúrbio de Buenos Aires por um comando israelense e levado a Jerusalém a fim de ser julgado por seus atos, observa-se, o insistente discurso de um funcionário que, acima de qualquer reflexão moral, cumpre absolutamente tudo o que lhe é ordenado. O que particularmente chama mais atenção é justamente a falta de reação desse que foi considerado um dos maiores carrascos nazistas, insistindo em sua inocência em relação ao morticínio mor da História. É notória a lavagem cerebral porque passaram os alemães no tocante ao ideal da busca, a qualquer preço, da raça ariana/pura, em detrimento aos judeus, considerados inferiores e indesejáveis, assim, Eichmann assumindo a condição de um mero burocrata desenvolve a Solução Final para o extermínio dos judeus. Assim sendo, sob um olhar filosófico, Hanna Arendt acerca do julgamento de Eichmann discorre sobre a banalidade do mal, ou seja, a capacidade destrutiva que, teoricamente, todo ser humano possui em nome da burocratização da vida pública.

    ResponderExcluir
  13. Marcus Vinicius 11028212

    Einchmann é retratato não como um homem cruel e frio, mas como uma pessoa normal, funcionária do estado, cumprindo sua função como burocrata, agindo em cumprimento as ordens que lhe são passadas, como um cidadão normal, realizando seus deveres, mesmo que para sociedades de fora seja algo moralmente condenável, e por isto gera esta dicotomia de pontos de vistas, ele é culpado como todos os demais por estar participando deste processo horrível que foi o holocausto, ou simplesmente um cidadão que nem sequer participou diretamente dos eventos, mas cumpriu plenamente seu dever naquela sociedade, a banalidade do mal, como apenas um instrumento do trabalho, enfim, é interessante esta discussão já que podemos verificar as duas faces de um problema encarado pelo ponto de vista interno e externo da situação.

    ResponderExcluir
  14. Um traço característico marcante, ao menos a mim, sobre o documentário, é o processo de desumanização das vítimas do regime nazista. A narrativa e as teorias produzidas contra os judeus culminaram no efeito pratico de que eles, e outros como os ciganos, eram considerados "diferentes" dos seres humabos. Em suma não eram gente.
    Parece que não ocorrência a nenulhum europeu médio a ideia de que ele é os judeus tinhamnalgo em comum. Eram ontologicamente diferentes, tinha existências em níveis diferentes. Os judeus naturalmente inferiores, e causavam problemas e degeneração onde viviam, consequência de sua própria degeneração.
    Assim sendo, como podia um cidadão do Reich sentir empatia pelos enviados aos campos de concentração? Como poderia, por um momento sequer, tentar imaginar o que passavam as minorias perseguidas pelos regimes?
    É impossível. Não se pode sentir empatia com algo tão diferente de você, e isso é expresso nos últimos trechos do filme, onde Eichmann, indagado pelo seu inquisitorial sobre o fato dele se preocupar com seus filhos e ter causado esse mesmo sofrimento a muitas pessoas mais, ter matado crianças judias, responde: mas eram judeus.
    Internalizado o discurso racista, não existe possibilidade de compaixão e empatia resultante da alteridade. O outro é diferente, nem a humanidades nos é comum.

    ResponderExcluir
  15. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  16. O que podemos ver no filme da solução final é um nazista obscuro que diz que não matou nenhum judeu e acredita que isso o faz ficar parte e tira a sua culpa , uma parte que retrata isso , mas também nos demonstra que não é só o alemão que tem esse pensamento, foi quando ele diz que fez tudo durante o terceiro Reich pois foram ordens dadas e que devem ser cumpridas assim como o capitão judeu diz a mulher que não contou que seria ele quem intetrogaria o alemão por ter sido ordem. O que me deu a ideia de que como militar eles cumpriam ordens independente do que achavam certo ou errado, o que poderia deixar o nazista mais "tranquilo" quanto ao genocídio ao qual fez parte. Podemos ver que Hanna Arendt ja entende o alemão com traços que todo ser humano , já no filme foi possível ver que ele é um cara obscuro e que como retratado na parte em que da um tiro no bebê, ou seja , alguém que de alguma forma não é uma pessoa normal

    ResponderExcluir
  17. Para que o mal se tornasse banal na Alemanha nazista, obviamente, um processo de propaganda forte aconteceu. Os judeus já sofriam perseguição há muito tempo pelo mundo e, naquele contexto, foram culpabilizados pela situação econômica calamitosa que a Alemanha passava. Certamente, o nacionalismo germânico, fora instado pelo que ficou conhecido pelos alemães como “diktat” (imposição), que seriam as duras medidas contidas no Tratado de Paz de Versalhes (1919), que penalizavam duramente seu país como o principal responsável pela Primeira Guerra Mundial. Nesse contexto a propaganda ideológica nazista encontrou terreno fértil para proliferar em meio a uma população sofrida e, desta forma, inúmeros crimes contra a humanidade foram cometidos em nome do Estado alemão sob o comando de Hitler. Os números mostraram que Hitler recuperou, de certa forma, seu país econômica e socialmente, isso dava-o sustentação política, mas o Führer também mantinha o seu regime nazista extremamente autoritário. No entanto, não podemos relativizar o que aconteceu à época, mesmo podendo incorrer, de alguma forma, em anacronismo.
    Eichmann, era um burocrata que, muito provavelmente, cresceu em meio àquele caldo social antissemita e somente cumpriu ordens (ou nem todas), como a maioria dos funcionários do corpo operacional da SS (Schutzstaffel). Arendt foi cirúrgica ao afirmar que Eichmann se mostrou um “mero funcionário” cumpridor de ordens, assim como qualquer cidadão “comum” e não um ser abjeto, amoral, assassino inescrupuloso. Isso fica evidenciado no filme em diversas cenas do interrogatório, apesar de que a execução daquele bebê, em uma cena que retratava uma passagem da vida de Eichmann, foi atroz.
    Sem sombra de dúvida, a propaganda veiculada massivamente contra o povo judeu muito antes do holocausto acontecer, juntamente com o chauvinismo alemão, foram essenciais para que os judeus fossem considerados uma “sub-raça” que devesse ser exterminada, assim como ciganos etc… Felizmente, após tamanha monstruosidade cometida por todos os lados na 2ª Guerra Mundial, as Nações Unidas foram criadas com o intuito de garantir, através de uma organização multilateral, o cumprimento de uma série de medidas a fim respeitar os direitos humanos universais.

    ResponderExcluir